quinta-feira, 26 de junho de 2008

O movimento de Sarah

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Apenas uma pessoa estava sentada na quinta fileira de um grupo de cadeiras dobráveis, quando entrei naquele salão meio escuro às dez para as duas. Ela se identificou como sendo Sarah. Conversamos um pouco e, convidei-a para ir mais para frente e sentar-se próximo das primeiras filas. Sarah manteve-se em seu lugar. “Eu sempre sento aqui”, disse-me. Eu a provoquei um pouco: “Quem sabe Sarah, se você trocar de lugar talvez algo de novo aconteça hoje.”
Sarah aceitou o desafio. “Você está maluco? Na minha idade? Eu tenho oitenta e três anos!” Nesta hora ela já estava de pé e, como se fosse para provar que eu estava errado, ela se moveu da quinta para a quarta fileira. Rapidamente passei a considerar a possibilidade de ninguém mais aparecer, e eu que havia colocado de lado tantas tarefas prementes, para falar apenas para Sarah, mas, aos poucos, as demais cadeiras se preencheram. Um pouco depois das duas, um grupo de tamanho razoável já estava pronto para a palestra. Sarah, tudo indicava, não era de forma alguma a mais velha; um dos presentes tinha 103 anos. O tema era “Novas Possibilidades”.

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Quase caindo para trás, confessei que no início do dia, havia me feito exactamente a mesma pergunta. “Mas muita coisa havia acontecido desde então...”, comecei a explicar. Procurei por palavras que exprimissem o intenso envolvimento, a excitação e a paz que eu sentia naquele momento. Meus olhos pousaram sobre Sarah. “quando entrei aqui, Sarah estava na quinta fileira, e agora está na quarta!” Então Sarah levantou o dedo indicador e gritou: “Você ainda não viu nada! Estou apenas começando!” Começamos todos a aplaudir, e aplaudimos, e aplaudimos. Os aplausos foram muito além de aplaudirem Sarah. Estávamos aplaudindo a alegria de estarmos vivos.

Quando saí daquele salão, o relógio marcava dez para as quatro. Eu andava sobre as nuvens, e tinha tempo para tudo. Toda a experiência fora de uma radiante possibilidade.

Mais tarde, lembrei-me de uma parábola que meu pai costumava nos contar para explicar nossa limitada capacidade de compreender a natureza das bênçãos que o universo guarda para nós.

Quatro homens estavam sentados ao lado de seu moribundo pai. O venho homem, com seu último suspiro, contou-lhes que havia um imenso tesouro enterrado nas terras da família. Os filhos se agruparam ao seu redor gritando: “Onde, onde?”, mas já era tarde. No dia seguinte ao funeral e por muitos outros dias, os jovens saíram com suas pás e picaretas e reviraram o solo, escavando fundo o terreno de uma ponta a outra. Não acharam nada, amargamente decepcionados, eles desistiram da busca.
Na estação seguinte, a fazenda teve a melhor colheita de todos os tempos.

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