segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Carta ao...

"Ainda estou atordoado.
Conflito necessário, cócegas, porquês e afins. É barata a minha animosidade, porém doce é a ilusão de sublimar o teu afeto, e de tantas ressalvas e vorazes vontades morreu só a saudade num boteco na praia do meio. O andar descalço, por pontes, aparatos, a destreza desviando-me do sol, de um punhado de carros num domingo que não deveria acabar. E só o reencontro perduraria dispondo-se controverso para beijos antes planejados numa cumplicidade velada. Sabes que pode ser trejeito, ou vontade e loucura apinhando nos meus bolsos repletos de chicletes e cigarros para maquiar a ansiedade.
Solicitei a presença da ventura para encarar meus amuletos, para tanto, não tive má sorte, salvei-me dos infortúnios num dia chuvoso (aliás, nosso sempre, né?!), pois ganhei companhia por toda a viagem, voltei, mas tenho os meus contratempos, quisera eu ficar, e ter enaltecido na memória mais um caminhar, levemente bêbedos por um caminho que não levasse a lugar algum, nem Guarapari, Anchieta ou Ecoporanga.
Abarquei um dia e meio de amarguras, guardando possibilidades e tais amenidades que poderia lhe contar por mais um dia, e dizer depois que se quisesse poderia dormir no meu colo. Ou cantar-te uma canção ao ouvido e abraçar, nos entrelaçando, sem precisar saber, já que ter razão não importa mais! Tenho os meus devaneios de lembrar, e mais aparatos, músicas, livros, cheiro e lembranças, que eu espero, não ficarão empoeiradas.
Ainda teremos dias felizes?
Em relvas esverdeadas. Que haja um sol tão bonito, um rio tão limpo e mais metáforas de paz, que só haveria lágrimas pra consolar o riso numa noite que seria tão longa que mal daria tempo pra ficar acordados. Teríamos vinis de jazz e bossa nova e sambas pra não contar mais, vinho do porto e amigos pra convidar... Mostraríamos meus poemas novos que acabei de escrever pra você e sorrindo sem graça você diria a eles que sou bobo. Eu nunca mais ficaria triste, e você não teria vergonha em me contar os seus segredos.
Estou aqui, me rindo, imaginando conexões cósmicas e conspirações e ruas em praças distantes, horas e horas pra fazer muitos carinhos, beijos rompendo dias para não haver mais esquecimento.
Saudade é nome de lembrança boa..."
(George Saraiva)

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